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Pesquisadora do IFMT descobre nova espécie de planta presente em áreas de transição do Cerrado e Amazônia

Publicado por: Reitoria / 27 de Agosto de 2019 às 15:54

Zamia brasiliensis Calonje & Segalla, é uma nova espécie de Zamia (Zamiaceae, Cycadales), com registro de ocorrência apenas nos estados de Mato Grosso e Rondônia. A espécie foi descrita e ilustrada pelos pesquisadores Rosane Segalla, bióloga e servidora do IFMT Campus Cáceres e doutoranda em Biologia Vegetal pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) e pelo pesquisador Michael Calonje (Cycad Biologist do Montgomery Botanical Center).

Na entrevista abaixo a pesquisadora fala um pouco do trabalho realizado, das particularidades da espécie conhecida como “fósseis vivos” e da importância científica dessa descoberta. Confira!

“A maioria das linhagens de plantas de sementes do Mesozóico estão extintas, mas as Cycadas têm persistido em ecossistemas tropicais até o nosso tempo. Esse fato eleva a relevância da descrição da nova espécie para a ciência, como motivo maior de conhecer o mundo em que vivemos e o que ele contêm”, assinala a professora Segalla.

Como foi o trabalho de pesquisa?

Profª. Rosane Segalla: O trabalho envolveu consultas a base de dados e material de coleções botânicas, além de visitas a populações no ambiente natural. Contamos com o apoio do Montgomery Botanical Center, https://www.montgomerybotanical.org, instituição que se dedica ao avanço da ciência através de pesquisa, conservação e educação envolvendo coleções científicas de plantas. E a licença capacitação a mim concedida pelo IFMT foi fundamental para o desenvolvimento desse trabalho.

Como aconteceu essa feliz descoberta?

Profª. Rosane Segalla: Pesquisas botânicas recentes conduzidas nos estados de Mato Grosso e Rondônia levaram à descoberta de duas populações desse táxon existente em áreas de transição Cerrado-Amazônia. Um exame atento de sua morfologia vegetativa e reprodutiva produziu convincente evidência de que este táxon representava uma espécie nova para a ciência. O novo táxon é comparado a duas espécies morfologicamente similares com áreas de distribuições geográficas adjacentes: Z. boliviana do bioma Cerrado, e a espécie amazônica Z. ulei. A nova espécie compartilha pecíolos desarmados com Z. boliviana, mas é facilmente distinguível por seus folhetos muito mais amplos. Z. brasiliensis tem folhetos um pouco se assemelhando àquelas dos indivíduos juvenis de Z. ulei, mas a última espécie é facilmente diferenciada pela presença de espinhos em seu pecíolo.

Qual o impacto e a relevância dessa descoberta e de sua divulgação?

Profa Rosane Segalla: Descrever uma espécie é bastante significativo para a ciência e a comunidade científica em geral. Porém, por se tratar de uma espécie reliquiosa, reconhecidamente tida como um “fóssil vivo”, por pertencer ao grupo das Cycadas, um grupo de gimnospermas tropicais (linhagem ancestral dentro de plantas de sementes) é ainda mais relevante. As Cycadas aparecem no registro fóssil no período Permiano, próximo ao final do Paleozóico (mais de 200 milhões de anos atrás), e eram plantas dominantes nos ecossistemas mesozóicos (ao mesmo tempo que os dinossauros). A maioria das linhagens de plantas de sementes do Mesozóico estão extintas, mas as Cycadas têm persistido em ecossistemas tropicais até o nosso tempo. Esse fato eleva a relevância da descrição da espécie para a ciência, como motivo maior de conhecer o mundo em que vivemos e o que contêm.

O que o trabalho representa para o IFMT e para a comunidades científicas nacional e internacional?

Profª. Rosane Segalla: Como servidora do IFMT, onde ministro disciplinas da área da Botânica, como a Morfologia e a Taxonomia Vegetal, o trabalho representa a materialização da teoria e do fazer cotidiano ou do aprender fazendo. É sem sombra de dúvida, uma motivação a mais para o trabalho docente e estímulos aos estudantes. Ao mesmo tempo, o trabalho é um exemplo de que nossa biodiversidade ainda é muito pouco conhecida, não só no âmbito taxonômico, mas de outras áreas da ciência. É um alerta para a urgência de se conservar nossos ecossistemas, especialmente, hábitats dentro de hotspot de biodiversidade (áreas de relevância ecológica por possuir vegetação diferenciada da restante e, consequentemente, abrigar espécies endêmicas), como é o caso desta nova espécie Zamia brasiliensis.

O artigo já foi publicado em algum periódico?

Profª. Rosane Segalla: Sim, foi publicado no periódico científico internacional Phytotaxa, onde foi capa do Vol 404, Nº 7: 28 May 2019 e pode ser acessado pelo link: https://doi.org/10.11646/phytotaxa.404.1.1 ou https://biotaxa.org/Phytotaxa/issue/archive?issuesPage=2#issues. O fato de ser capa do periódico é importante porque ajuda na divulgação do trabalho em si e permite maior visibilidade da atuação dos pesquisadores e instituições envolvidas, ampliando a network para novas parcerias em pesquisa voltadas para o conhecimento científico e proteção de espécies ao nível nacional e internacional.

Pessoalmente, o que considera interessante e motivador destacar nesse trabalho?

Profª. Rosane Segalla: As "fósseis vivos" como são chamadas, conservam muitos caracteres únicos dentro de plantas de sementes, de modo que representam uma linhagem muito valiosa de plantas que merecem esforços para sua conservação. Zamia brasiliensis faz parte de um dos grupos de organismos mais ameaçados globalmente, de acordo com as avaliações da Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas, publicadas pela IUCN (União Internacional para Conservação da Natureza). Segundo essas avaliações, mais de 60% das espécies de Cycadas integram alguma categoria de risco de extinção. Infelizmente, a maioria das espécies de Cycadas está ameaçada pela destruição de seu habitat. Estas são algumas das razões do entusiasmo e relevância da descrição da espécie e que agora integra o grupo de outras Cycadas, consideradas muito carismáticas para a conservação de plantas ao nível internacional.

Estamos vivendo um período de queimadas intensas. Quais os riscos para a preservação de uma espécie que acaba de ser descoberta?

As poucas populações encontradas em Mato Grosso, ocorrem em áreas do entorno de uma hidrelétrica em desenvolvimento e, certamente, muitos indivíduos foram perdidos pelas alterações da paisagem. Em Rondônia, populações foram encontradas em pequenos fragmentos florestais, bastante afetados pela ocorrência de fogo periódico e outras causas de interferência antrópica nos habitats, o que representa um risco a mais para a sua preservação a longo prazo. O fogo é prejudicial à medida que interfere na regeneração dessa espécie de Zamia e nas interações associadas a ela, afetando principalmente, os eventos do ciclo reprodutivo. As queimadas coincidem com a maturação e deiscência de sementes e também com a emergência das estruturas reprodutivas e de novas folhas, repostas apenas anualmente, além de queimar plântulas que ainda estão se estabelecendo. O acúmulo de material seco, típico e comum dos habitats dessa planta e do período de estiagem, favorece queima mais intensa e danos mais severos a ela e a sua comunidade associada, causando perdas irreparáveis e insucessos à sua conservação.

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