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Professor do IFMT Cáceres participa de projeto de conservação e fertilidade do solo no Mali, África

Publicado por: Campus Cáceres / 7 de Agosto de 2023 às 11:06

O projeto da Agência Brasileira de Cooperação do governo federal, coordenado pela UFLA, envolve técnicos e agricultores das zonas produtoras de algodão no Mali.

O Instituto Federal de Mato Grosso, IFMT, por meio da participação do agrônomo, docente, pesquisador e extensionista do Campus Cáceres, Milson Evaldo Serafim, integra missão de cooperação internacional no Mali, país do continente africano, em projeto que promove formação e transferência de tecnologias de manejo, fertilidade e conservação do solo.

Desenvolvido pela Universidade Federal de Lavras (UFLA), em cooperação técnica conjunta com a Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores (ABC/MRE), o projeto ‘Preservação do Potencial Produtivo das Zonas Produtoras de Algodão no Mali-Cotton Solos’ promove capacitação para técnicos da Companhia Malinesa de Desenvolvimento Têxtil (CMDT) e para agricultores de comunidades das regiões de Bamako, Sikasso e Koutiala.

O Mali é um país da África Ocidental e parte de suas regiões compõe o deserto do Saara. Em meio as ações para a promoção da conservação e fertilização do solo com transferência de tecnologias adequadas às regiões atendidas, as equipes formadas por professores e pesquisadores da UFLA com a participação do docente do IFMT e outras instituições parceiras, implantam Unidades Técnicas Demonstrativas (UTDs) de conservação e fertilidade do solo nas comunidades, em campos demonstrativos para o cultivo de algodão. As ações diretas com agricultores malineses envolvem preparação do solo, plantio e implantação de culturas associadas.

Além da contribuição na produção de algodão, o projeto busca sustentabilidade na produção de alimentos para a população e de forrageiras para alimentação animal. Nesta frente, o docente do IFMT integra o grupo voltado para ações de conservação de solo e água. Ele busca e orienta o cultivo de plantas de cobertura com potencial para uso alimentício, uso forrageiro e incremento de carbono do solo nas regiões atendidas.

“Trata-se de regiões com precipitação entre 700 e 900 mm anual de chuvas bem concentradas durante aproximadamente 4 meses. Então, é muito importante que a produção de biomassa e grãos aconteça de forma intensa, durante esse período, para assegurar a proteção do solo e garantir a produção de alimentos. Caso contrário haverá escassez de alimentos, tanto para pessoas como para os animais”, explica Serafim.

De acordo com o pesquisador, grande parte do trabalho nas comunidades ainda é realizado por tração animal, então a plantação de forrageiras é utilizada tanto para animais de produção (carne e leite) como para alimentação de animais de trabalho.

Como o Mali não é um país autossuficiente na produção de alimentos, a população também depende do sucesso do cultivo de plantas com potencial para uso alimentício, em cada safra, já que as comunidades envolvidas no projeto não têm estoques de alimentos para mais de um ano.

Introdução a plantios consorciados

Em meio a carência na produção de alimentos, predomina na comunidades do Mali os monocultivos: tendo o algodão como cultura econômica, e o milho como cultura alimentícia.

A partir de um convênio entre o governo brasileiro e o governo do Mali, a equipe do projeto iniciou a consorciação de culturas com a introdução de novas plantas em busca de conservação do solo e sustentabilidade.

“Nossa proposição é a introdução de consórcios, para gerar maior equilíbrio nessas áreas de produção, diminuir a pressão de pragas e de doenças e deixar maior quantidade de resíduos de proteção do solo. Então, estamos introduzindo plantas com objetivo de produção de biomassa para proteção do solo, como por exemplo, a mucuna, crotalária e o feijão-guandu anão. Tem que ser plantas de ciclo curto que consiga fechar o ciclo durante os 4 meses e deixar sementes para os agricultores fazerem novas semeaduras no ano seguinte”, explica Serafim.

Entre as plantas alimentícias que foram introduzidas nos consórcios, o feijão caupi apresentou grande adaptação e boa produtividade. E o amendoim, que já é uma planta tradicional no cultivo das comunidades, foi consorciado com o algodão e também apresenta bons resultados.

O pesquisador destaca o respeito à autonomia da população com ampla participação decisória no processo de introdução de novas plantas, a partir de uma metodologia de experimentação e práticas no campo.

“O processo de introdução de novas plantas têm cuidados que vão para além dos cuidados fitossanitários e de proteção para não difusão de genes exóticos da região. Ela depende da aceitação da comunidade. Então, as plantas são colocadas em pequenos módulos de cultivo para conhecimento. E, posteriormente, havendo uma aceitação, um interesse da comunidade é que se inicia um processo de multiplicação e expansão dessas plantas”, conta Milson.

O projeto desenvolve também ações com as comunidades para promover melhorias nas condições de vida da população no âmbito da saúde e saneamento básico. Uma das ações está ligada a dificuldade de acesso à água nas comunidades, com alternativas para captação e armazenamento em caixas d'água. A equipe do projeto realiza ainda a implantação de sistemas de saneamento com banheiros secos - uma tecnologia social que não utiliza água e produz insumos úteis na fertilização de plantações.

As ações do projeto estão inseridas, diretamente, nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Organizações das Nações Unidas em áreas-chaves como práticas agrícolas sustentáveis, o combate à fome, promoção de saneamento, água potável, saúde, segurança alimentar e melhoria da nutrição da população.

Cooperação internacional e desenvolvimento sustentável

A participação do IFMT no projeto teve início em abril de 2022 durante a realização de pós-doutorado do professor Milson no Programa de Pós-graduação em Ciência do Solo, do Departamento de Solos da UFLA, sob a coordenação do professor Junior Cesar Avanci. As missões no Mali de junho a setembro deste ano integram as atividades de Milson em sua licença capacitação. Durante o trabalho, o pesquisador realiza caracterização do estudo de solos do ambiente, com coletas e análise de amostras de solo das comunidades atendidas pelo projeto.

O docente do IFMT que é doutor em Ciência do Solo na área de concentração em Recursos Ambientais e Uso da Terra, com experiência em sistemas conservacionistas de manejo do solo e da água, disponibilidade hídrica, fertilidade do solo e nutrição de plantas, destaca a complexidade e riqueza da experiência no Mali.

“A experiência de trabalhar no Mali é muito rica. Ela passa, primeiramente, por uma diferença cultural muito grande. Então, no primeiro momento, nós precisamos compreender as preferências e os saberes daquelas comunidades, daquelas pessoas. Mali é um país muito pobre que tem muitos problemas. Apenas 4 a 5% da população das comunidades tiveram acesso à leitura e à escrita. Mas, eles têm muitos saberes e uma capacidade imensa de avaliar o que está sendo proposto e dizer se aquilo tem potencial ou não para continuar sendo desenvolvido”, afirma Serafim

“As pessoas são muito motivadas e dispostas a aprender, abertas a experimentar e com grande interesse em buscar novas tecnologias, novas alternativas. Então, isso tem facilitado muito o andamento do projeto”, completa o professor.

De acordo com o pesquisador, a sua experiência de ensino, pesquisa e extensão com solos na região de Cáceres e baixada cuiabana ajudou o trabalho no Mali pelas condições e tipo de solo existente nas duas realidades.

“Existe uma certa similaridade climática entre solos da região de Cáceres e do Mali. É uma região de clima extremamente quente com uma demanda evapotranspirativa muito alta. Lá tem um tipo de solo que é comum em Cáceres, que são os plintossolos. Neste caso, é preciso plantas que tenham boa adaptação, tolerância à déficit hídrico e boa produção de sementes. Então, a minha experiência nessa região da baixada cuiabana, em solos com limitações de fertilidade e de drenagem é muito válida para o trabalho”, afirma o pesquisador.

Para Serafim, a participação do IFMT atuando em missões de cooperação técnica internacional entre países em desenvolvimento, que compartilham desafios e experiências, é fundamental para fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria para o desenvolvimento sustentável.

Além disso, segundo o pesquisador, a cooperação técnica no Mali traz para Mato Grosso, para o IFMT, setores produtivos e para a comunidade científica ganhos com a produção acadêmica em forma de artigos científicos, cartilhas técnicas e material de extensão. Também proporciona capacitação docente por meio de vivências em outras culturas e ambientes, além de trocas de experiências com as comunidades atendidas. Outros benefícios incluem o aumento do acervo de imagens, dados de campo e resultados de experimentos como material didático para uso nas aulas com estudantes da instituição.

Com a coordenação-geral do professor da UFLA, João José Granate de Sá e Melo Marques, as missões do projeto no Mali são realizadas desde 2018. As ações foram interrompidas durante a pandemia e retornaram no ano passado. O projeto tem previsão de duração de cinco anos e as equipes realizam uma média de cinco missões por ano nas comunidades do Mali.

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